Teo passou sua primeira infância no campo, entre galinhas e porcos, tomando banho, com seus pais,
nos riachos que alegravam seu mundo. Tinha esse nome, Teo, em homenagem, diziam, a um médico da
cidade grande, que ele não conhecia, mas que teria retirado de dentro do ouvido de seu pai uma
semente de feijão já germinada. Essa história muito lhe impressionava: uma árvore crescendo dentro da
pessoa.
Dr. Teodócio era otorrinolaringologista e, além de colher feijão de orelhas era muito querido por todos. Tinha um sítio perto da casa dos pais de Teo. A vida corria seu jeito simples sem muitas leituras sofisticadas para além do exame minucioso de estrelas, que nas noites claras e sem lua, era a atividade que todos lá gostavam. Contavam e localizavam as estrelas mais brilhantes, percebiam suas diversas cores e sus jeitos de faiscar. Teo anotava as novidades do céu em papel amassado dentro da cabeça. Sabia suas próprias constelações. Navegava seus navios nas águas dos céus noturnos, depois dormia e sonhava seus monstros coloridos, seus voos revirados, seus bichos, seu mundo. Às noites inventava os dias que viveria intensamente. De dia, as tarefas dos dias: correr entre passarinhos, beber água de fonte, rolar nos montes verdes , ouvir conversa de gente, aprendendo as transformações das palavras. Era assim que inventava seus números, no pulo dos sapos e nas teias das aranhas penduradas, comendo jaboticaba e guardando besouros na caixinha. Sua mãe era a história dos mundos. Depois das enchentes de 2012 a família de Teo, desolada, se muda para a cidade e ele, pela primeira vez vai a escola. Já conhecia verbos e números, aprendidos com sua mãe. Adorava matemática, talvez pela semelhança grega da palavra com seu nome e com o do Dr. Teodócio. Os números, as medidas, as estratégias, tudo lhe parecia fascinante. Mais tarde, já adiantado na escola e ainda repleto da poesia que a infância no campo lhe proporcionara, se divertia com os algorítimos, ou melhor, com a palavra algorítimo, que dava ritmo a algo, algum ritmo, por certo, desconhecido: voltas que a cabeça impunha aos números para que mudando sempre, permanecessem os mesmos. Não seria assim também na vida?, se perguntava... |
Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia UFRJ |
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